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Também no mundo digital, as mulheres têm sido as maiores vítimas da violência
Também no mundo digital, as mulheres
têm sido as maiores vítimas da violência
Não apenas no mundo real, mas também no virtual, as mulheres são vítimas potenciais da violência e essa questão foi discutida hoje, dia 28, durante o encontro mensal do projeto "Diálogo dos Saberes: a academia vai ao Ministério Público". O palestrante foi o promotor de Justiça Fabrício Patury, coordenador do Núcleo de Combate aos Crimes Cibernéticos (Nucciber) do MP. Também à frente da Central de Inquéritos, ele debateu com representantes de movimentos feministas, da rede de apoio, servidoras do MP, além de policiais civis e militares femininas que participam de uma capacitação da “Ronda Maria da Penha”, traçando um panorama da situação dos ilícitos cibernéticos e violência contra a mulher e constatando que muitos fatos ocorrem porque a inclusão digital não veio em conjunto com a educação digital.
Segundo o promotor de Justiça, que já levou a expertise do Nucciber para mais de 50 instituições como escolas e parceiros dos órgãos públicos e particulares, é necessário entender como esse tipo de crime via internet funciona e como a pessoa deve se portar perante essa realidade. Ele cita que o momento atual é marcado por uma crise de gerações. Os mais velhos detêm o conhecimento, a experiência, mas não lidam bem com as ferramentas da internet e os mais jovens são desenvoltos na utilização dessas ferramentas, mas não têm a visão necessária para se preservarem dos perigos ali oferecidos. A realidade, diz, é que tem aumentado muito o número de denúncias tratando de crimes cibernéticos, notadamente o que vem sendo chamado de vingança pornô, onde 70% das vítimas é do sexo feminino.
Defende Fabrício que essa educação digital tem que começar cedo e os pais precisam entender que o fato da criança aprender com facilidade a utilizar as ferramentas oferecidas pela internet, não significa que ela esteja preparada para entrar em contato on line com várias pessoas. Ele diz que a essência é a mesma de antes quando os pais proibiam os filhos de falarem com estranhos e não deixavam crianças pequenas sem supervisão. O promotor pontua ainda que a orientação, no que diz respeito à rua, é a mesma para o chat, pois ambientes estranhos são sempre perigosos. Da mesma forma que pais não deixam filhos pequenos se jogarem no fundo do mar, não devem deixá-los entrar no fundo do ambiente virtual, afirma.
A palestra teve abertura feita pela coordenadora do Grupo de Atuação em Defesa da Mulher (Gedem), promotora de Justiça Márcia Teixeira, idealizadora do “Diálogo dos Saberes”, que objetiva a articulação da comunidade acadêmica com a sociedade civil para melhor enfrentar a violência. Fabrício Patury exibiu vídeos, falou também sobre o Marco Civil da intenet e mostrou que sendo a vítima capacitada, a lei anula o crime. No caso do crime virtual, ao contrário do mundo real, a vítima tem mais formas de se proteger de seus agressores e precisa saber como. De acordo com ele, em Salvador, 30% das ocorrências policiais envolvem crimes como violência doméstica de qualquer natureza e eles ocorrem em todas as classes sociais. O promotor considera a Lei Maria da Penha importante por ter provocado um grande movimento das denúncias às delegacias. Afirma que muitas ações penais foram instauradas, mas, passado o primeiro momento, as mulheres por uma série de motivos desistem, dificultam as provas, pedem acordo seja por pressões familiares, econômicas e culturais. Por isso, acredita que o Estado deveria oferecer mais suporte para elas.
Fotos: Ceaf