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Seminário debate cuidado com mulheres em situação de rua e de vulnerabilidade social por uso de álcool e drogas
O acesso da população em situação de rua à atenção básica de saúde, a violência de gênero e o uso de álcool e drogas pela população vulnerabilizada estiveram entre os assuntos debatidos hoje, dia 5, no encontro do Grupo de Trabalho Materno-Infantil: Mulher Gestante e Puérpera em Situação de Rua do Fórum da Rede Cegonha da Região Metropolitana de Salvador. Realizado no Grupo de Atuação Especial de Defesa da Mulher, o encontro foi promovido pelo Centro de Apoio aos Direitos Humanos do MP (Caodh), em parceria com a Superintendência de Atenção Integral à Saúde (Sais) da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Para a coordenadora do Caodh, promotora de Justiça Márcia Teixeira, o encontro auxilia na construção do fluxo de cuidados com essa população. “Nós já estamos avançados com o fluxo na lógica dos sistemas de Saúde e de Justiça e agora estamos ouvindo as pesquisadoras que trabalham diretamente com essas mulheres”, afirmou, salientando a importância dessa interface com a atuação de campo para se verificar “o que de fato está funcionando”.
A pesquisadora Lua Sá Sultra apresentou o trabalho ‘Acesso das pessoas em situação de rua na atenção básica: uma análise das praticas instituídas pela saúde da família’. De acordo com a professora, o objetivo do trabalho é compreender o acesso para além da demanda de serviço e mais sob a ótica do cuidado. “Há estratégias específicas que podem ser adotadas para facilitar o acesso das populações mais vulneráveis”, afirmou Lua, destacando que os elementos relativos à dinâmica dos pacientes em situação de rua é diferente. “Muitos deles não têm sequer documentos. A pesquisa aponta que um caminho para prestar esse atendimento com mais eficiência é levar em conta o que chamamos de demandas de território”, disse a pesquisadora, listando dentre as providência a busca ativa dessa população nos territórios onde costumam ser encontrados, bem como o atendimento das suas demandas sem a necessidade de marcar consulta. “A saúde não pode ficar tão fechada. A vulnerabilidade dessa população se impõe como determinante de atendimento mesmo que não haja uma urgência médica”, frisou.
A socióloga Luana Malheiros falou sobre a ‘mulher usuária de crack: trajetória de vida, cultura de uso e políticas sobre drogas no Centro Histórico de Salvador. “Para atender essa população é preciso entender como se dá o uso: por que essas mulheres recorrem ao crack? Quando há abuso desse uso?”, questionou a pesquisadora, explicando que a resposta está associada diretamente à violência de gênero que elas sofrem na rua. “A rede de proteção ainda não entende o nível de violência a que essas mulheres estão submetidas. A Lei Maria da Penha alcança as mulheres que são vítimas em suas residências, mas nem sempre contempla a mulher em situação de rua”, afirmou ela, explicando que existe um conjunto de violências que a mulher que não tem domicílio passa que não estão presentes nessa lei. “São mulheres que são violentadas por grupos de traficantes, por companheiros em situação de rua; pessoas que estão fora do radar das políticas públicas”, afirmou Luana, explicando que o uso de crack acaba surgindo como uma alternativa para que essas mulheres “suportem esse sofrimento”. Para a coordenadora de Promoção de Equidade em Saúde da Sesab, Emanuela de Carvalho, uma das organizadoras do encontro, as pesquisas de campo servem de norte para construção de políticas públicas e de suporte. “A partir dessa visão mais próxima da questão, é possível reestruturar o atendimento e sanar uma série de carências”, afirmou.
Fotos: Guilherme Weber (Rodtag)
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