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Notícia
09/10/2019 - 12:26
Redator:
George Brito (DRT-BA 2927)
Exposição fotográfica destaca catadoras de material reciclável de Salvador
Com o objetivo de visibilizar as catadoras e seu papel social, exposição estará no MP baiano a partir do dia 15
A luta por maior dignidade a um trabalho socialmente pouco reconhecido e a vontade de visibilizá-lo para valorizá-lo perante a sociedade. São prioridades comuns a Sônia dos Santos, 59; Jussara Aparecida Fidêncio, 56; Annemone dos Santos, 35, e mais nove mulheres, cujas trajetórias estão dando rosto e história a um grupo vulnerabilizado em direitos e garantias. Normalmente invisibilizadas pela indiferença quase geral ao papel social que desempenham, elas são protagonistas da exposição fotográfica 'Catadoras de Luxo: Heroínas (In) visíveis'. Segundo estimativas, há mais de mil catadores de material reciclável pelas ruas de Salvador, a maioria deles mulheres.
A exposição está instalada, desde o último dia 2, na orla da Barra, no Espaço Pierre Verger, na altura do Forte de Santa Maria, e no quarto piso do Shopping Barra, em frente às salas de cinema. As fotos estarão expostas ao público, nesses locais, respectivamente até o dia 2 de dezembro e 11 de outubro. Já a partir do dia 15 de outubro, a exposição estará por 20 dias na sede do Ministério Público estadual no Centro Administrativo da Bahia (CAB).
O MP baiano é um dos patrocinadores da exposição, por meio dos Centros de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh), do Meio Ambiente e Urbanismo (Ceama) e do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBT+ (Gedem). As instalações fotográficas foram visitadas ontem, dia 8, por uma equipe do MP, formada pelas promotoras de Justiça Márcia Teixeira, coordenadora dos Direitos Humanos; Cristina Graças Seixas, coordenadora do Meio Ambiente; Lívia Vaz, coordenadora do Gedem; e pelas servidoras do Caodh Cinthya Amaral, Inez Isabele Santos, Luciana Sá e Shirley Santos. De autoria do fotógrafo Paul Donnelly e curadoria de Gilberto Lyrio, a exposição traz imagens do trabalho cotidiano das catadoras e registros de sua beleza feminina, fora do ambiente de trabalho. As modelos contaram com o apoio do salão Nova Imagem para a produção.
O projeto da exposição foi desenvolvido pela advogada e mestranda em Política Sociais e Cidadania pelo Núcleo de Estudos sobre Direitos Humanos (Nedh) da Universidade Católica de Salvador (Ucsal), Laíze Lantyer, que pesquisa as condições sociais de catadoras e sua relação com a ausência de políticas públicas voltadas à inserção socioeconômica dessas mulheres. Essa perspectiva que fez o MP se unir ao projeto, parceria que se desdobrou de um Termo de Cooperação Técnica já existente entre a Instituição e a Ucsal.
“O projeto é bastante relacionado ao trabalho que o MP faz há mais de dez anos, especialmente no Carnaval, mas também durante todo o ano, com ações para garantir geração de renda mais adequada (no combate aos atravessadores, por exemplo) e material de trabalho apropriado, inclusive Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Queremos visibilizar o trabalho dos catadores, em sua maioria mulheres, que são verdadeiros agentes ambientais. Eles vivem muitas dificuldades, arcando com custos de aluguel de galpões, equipamentos de proteção e vulneráveis a uma série de doenças e viroses. Não têm o devido reconhecimento do Poder Público, que peca pela falta de políticas públicas em todo o estado”, afirmou a promotora de Justiça Márcia Teixeira. Já a promotora Cristina Seixas Graça explicou que ainda não há dados precisos sobre os catadores na capital baiana, mas é possível estimar a quantidade deles a partir do trabalho realizado em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério do Trabalho, que resultou em relatório sobre os catadores cooperados durante o Carnaval. “Nesse período, são mais de dois mil catadores nas ruas de Salvador”, disse.
Reconhecimento
Nos depoimentos disponíveis abaixo das fotografias da exposição do Shopping Barra, as catadoras revelam desejo por reconhecimento e o valor que dão ao ofício delas. “É bom que reconhece o trabalho”, disse Jussara sobre a exposição. “Espero que sensibilize para ter reconhecimento do nosso trabalho. As pessoas em geral não valorizam. Algumas empresas não doam o material (de resíduo produzido) para gente ter renda, preferem vender”, afirmou Sônia, catadora desde os dez anos de idade. O mesmo sentimento e diagnósticos são compartilhados por Annemone Santos, que faz catação desde a infância em Novos Alagados, onde mora até hoje. “O pessoal não se conscientiza. Acho que 1% deve ver o que somos realmente, agentes ambientais”, afirmou. Sua mãe, Isodélia dos Santos Nevez, foi homenageada na exposição. Falecida em 2017, ela foi “professora, catadora e referência do Movimento Nacional de Catadoras de material reciclável do Estado da Bahia (MNCR)”.
Segundo Laíze Lantyer, que também é fundadora da organização Paz Educação e Consciência Ecológica (Peace) e membro da Comissão do Meio Ambiente da OAB-BA, mais de 30 mulheres catadoras foram entrevistadas na sua pesquisa de mestrado, que foram classificadas em três grupos principais. “Existem as catadoras de rua, não cooperadas, as catadoras cadastradas em cooperativas e aquelas em situação de rua. Precisamos pensar, em um mundo mais preocupado com a redução do lixo, com estímulo às pessoas realizarem sua própria coleta seletiva, como será o futuro desses grupos”, afirmou.
Fotos: Rodrigo Tagliaro / Rodtag Fotografias
* Matéria atualizada no dia 10/10/2019 (correções em negrito)
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