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Notícia
22/01/2019 - 12:16
Redator:
George Brito (DRT-BA 2927)
Lideranças de diferentes credos fazem caminhada no Pelourinho em nome da liberdade religiosa
Sob olhares atentos de curiosos, soteropolitanos e principalmente turistas que não perderam a chance de registrar o momento histórico com seus celulares, diversos líderes religiosos, de diferentes matrizes de credo e fé, participaram ontem, dia 21, da “Caravana Afirmativa da Liberdade Religiosa” no Pelourinho, em Salvador. O evento promovido pelo Ministério Público estadual, por meio do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis), reuniu padres, pastores, frei, sheik, espírita, reverendo, babalorixá, ialorixá, entre outras lideranças.
Ao som do afoxé das Filhas de Gandhy, os representantes caminharam da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, até a Catedral Basílica, no Largo do Terreiro de Jesus, onde foi realizada uma celebração interreligiosa. Foi um ato simbólico em comemoração ao Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado nessa data em homenagem à memória da ialorixá Mãe Gilda, do Terreiro Axé Abassá de Ogun, falecida há 19 anos. Mãe Gilda é um símbolo de resistência das religiões de matriz africana. Em vida, a ialorixá enfrentou invasões e depredações ao seu terreiro, localizado no bairro de Itapuã. Ela possui um busto localizado no Parque do Abaeté, que foi reformado e reinaugurado em 2016.
“Nesse atual contexto que estamos vivenciando no Brasil, de muita manifestação de ódio, de recrudescimento da intolerância religiosa, é importante que um órgão como o MP se posicione. Ele tem a missão constitucional de defender o Estado Democrático de Direito. Então é fundamental que ele se coloque em prol da diversidade religiosa e no combate à intolerância religiosa”, afirmou a coordenadora do Gedhdis, promotora de Justiça Lívia Vaz, que destacou a “Semana Afirmativa da Liberdade Religiosa” promovida pela Instituição com três ações.
A caminhada foi o primeiro ato. Amanhã, dia 23, será realizada a 6ª edição do evento “MP e Terreiros - Diálogos Construtivos”. A conversa acontece no Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, em Itapuã, às 14h. Para fechar a programação, o MP promove o “III Seminário Sobre Intolerância Religiosa e Estado Laico”, no dia 25, das 9h às 18h, no auditório J.J. Calmon de Passos na sede do Ministério Público, bairro de Nazaré. A conferência de abertura do evento ficará a cargo de Hédio Silva Júnior, doutor em Direito Constitucional e advogado das religiões afro-brasileiras no Supremo Tribunal Federal. Todos os eventos são abertos ao público.
Confira a mensagem de algumas lideranças religiosas presentes na Caravana:
“Em tempos de disseminação de ódio e de tanta intolerância, tantos discursos que buscam promover a discórdia, a desarmonia, e promover realmente o ódio entre as pessoas, acho muito importante nós, que estamos aqui como lideranças religiosas, participarmos desta caminhada, que visa promover, justamente, o espaço daqueles e daquelas que vivem o evangelho de Jesus Cristo, para quem é cristão, ou das outras religiões, seja Hare Krishna, muçulmana, candomblecista, seja umbandista; mostrar que para além de tanto discurso de ódio, existem pessoas que verdadeiramente acreditam na paz e no diálogo entre as religiões. Participar desse momento é extremamente importante”, pastora Sônia Mota, da Igreja Presbiteriana Unida de Salvador.
“Nós através dos nossos mantras, da adoração a Deus, a Krishna, sempre pregamos a paz. A nossa mensagem nessa caminhada à sociedade baiana e brasileira é que é possível vivermos juntos, partilharmos esse mundo juntos, sem violência, com a paz. Essa é a nossa mensagem. Cantar Hare Krishna, glorificar a Deus e viver em paz”, Sáumakra, do Movimento Hare Krisna.
“É importante nós estarmos aqui, não só a Umbanda, mas todas essas religiões, patrocinados mais uma vez pelo Ministério Público, que para mim, Pai Raimundo de Xangô, é como se fosse a tábua de salvação. É a voz que a gente tem, para falar juridicamente, porque aleatoriamente todo mundo pode falar, mas falar juridicamente, conhecendo a lei, a gente depende muito do MP. É uma honra está aqui”, Pai Raimundo de Xangô, do Centro Umbandista Paz e Justiça.
“É dever de todos nós, que somos cristãos, de todos os religiosos, lutar em defesa do direito de todas as pessoas cultuarem, conforme sua tradição e sua fé. Não é possível, que no mundo de hoje, nós ainda vivamos momentos de intolerância, violência, ódio e preconceito contra irmãos e irmãs de outras tradições”, reverendo Bruno de Almeida, da Igreja Episcopal Anglicana no Brasil.
“Estamos aqui na Bahia, que é de todos os povos, todos os santos, e todas as religiões. Queremos mostrar que é possível conviver junto com outras matrizes religiosas. Todo mundo procura a paz e ela deve unir todas as religiões, pois é um bem para todos. Um bem que devemos pagar um preço para construir, pois não é fácil construir e, para isso, precisamos de todo nosso empenho para levá-la às comunidades, cidade, dentro das Igrejas e dentro das religiões”, padre José Antônio Pecchia, da Arquidiocese de Salvador.
“Penso que é um ponto interessante para manter viva a reflexão e conceituar cada vez mais essa necessidade de nós, realmente, realizarmos um trabalho em benefício da diversidade religiosa. Porém, é preciso ter consequência. Não apenas ficar no evento em si, mas isso gerar uma consequência e ela ser também divulgada”, médium José Medrado, do Centro Espírita Cidade da Luz.
“Começo com a saudação do Islã da paz, que todos estamos precisando. Tudo que está acontecendo agora é através do Ministério Público, um papel que está fazendo desde alguns anos, marcando para nós, todas as religiões e baianos, que é possível a convivência pela paz, que não tem religião. A paz é tranquilidade que todo ser humano e a natureza precisa. Parabéns ao MP e a todos os irmãos”, sheik Abdul Hamid.
Fotos: Rodrigo Tagliaro / Rodtag Fotografias
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