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Mostra reúne obras feitas por internos e fotografias do cotidiano no presídio
Mais de 20 obras de arte saíram de celas de presídios e de leitos de um hospital em Salvador e foram para uma das áreas mais nobres da cidade. Em uma mansão construída em 1912, cercada por um jardim e por obras do escultor francês Rodin, foi inaugurada na última terça-feira (23) a exposição de artes plásticas “Cárcere e Hospital como lugar de gente”, do Projeto CienciArt. O projeto leva fotografias do cotidiano nos presídios e obras de arte feita pelos internos para exibição no museu Palacete das Artes, no bairro da Graça. A visitação é aberta ao público e pode ser feita diariamente até a sexta-feira, dia 26, das 14h às 18h30, e no sábado, dia 27, das 8h às 15h.
O CienciArt tem o apoio do Ministério Público estadual e é promovido pela Faculdade Social da Bahia (FSBA) e pela Universidade Salvador (Unifacs). “É um espaço para que a sociedade veja que atrás das grades existe vida, existe sentimento expresso através da arte. Esperamos que com essa interação entre o MP, o cárcere, as universidades e a sociedade, a gente possa construir um sistema prisional mais humano e mais eficaz”, explica o promotor de Justiça de Execução Penal, Edmundo Reis, que esteve no Museu na abertura das exposições.
Todos os quadros da exposição foram pintados por internos do Hospital de Custódia e Tratamento de Salvador (HCT). Os mosaicos foram criados por presos em regime fechado da Penitenciária Lemos Brito (PLB), que participam da oficina Libertarte do Complexo da Mata Escura, coordenada pelo artista plástico Eliezer Nobre e apoiada pelo MP. Todas as obras da exposição estão à venda.
A fotógrafa Sandra Andrade, que também é servidora do MP, assina a mostra “Aspiração de liberdade”, que retrata o cotidiano no sistema prisional de Salvador e faz parte da exposição. “Nós esquecemos que lá dentro tem pessoas. Só pensamos no crime e no ilícito, mas lá existe humanidade. Fazer esse trabalho é uma grande oportunidade de trazer o olhar para algo com função social, além de trabalhar a fotografia com a ressignificação social”, explica Sandra.
Alguns internos do HCT também foram prestigiar a mostra. “Eu tô amando essa oportunidade de vir até aqui. E fiquei muito alegre porque muita gente veio. Achei muito maravilhoso” disse, José Neto*, 40 anos, que se emocionou ao identificar os trabalhos dos colegas no espaço.
A interna Margarida Soares*, 54 anos, vê nos seus desenhos expostos no Palacete uma grande vitória. “Tô em fase de saída do HCT, e a arte entrou como um referencial de felicidade, de equilíbrio e de prazer com a vida. O fato de estar retomando o contato social através da arte também é muito importante. Esse contato com as pessoas e com a arte nos faz aptos a estar em sociedade de novo”.
Ainda estiveram presentes na abertura da exposição o filósofo José Menezes, professor da Unifacs e da FSBA e um dos idealizadores do projeto CienciArt, e o diretor do Palacete das Artes, Murilo Ribeiro. “Nós nos interessamos pelo HCT e pelo presídio porque temos cursos e profissionais com sensibilidade para esse tema. Por isso estamos fazendo pesquisa nessa área e ações de resgate da dignidade da pessoa humana. E essa é uma delas: mostrar para a sociedade que a cadeia e o hospital é lugar de gente. O MP, que também cuida desses ambientes, foi o nosso primeiro parceiro”, lembra Menezes. “Temos um compromisso com a educação, e isso envolve todos os segmentos da sociedade. A nossa postura é de acolhimento aos bons projetos”, destacou Ribeiro. O secretário de Administração Penitenciária da Bahia, Nestor Duarte, e o coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Segurança Pública (Ceosp), procurador de Justiça Geder Gomes, também prestigiaram a mostra.
*os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados
Texto: Raquel Saraiva (estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Aline D'Eça -MTB/BA 2594)
Fotos: Erick Sales (RodTag Fotografia/MPBA)
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