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Semana do MP: palestra aborda medo e a falta de liberdade como danos emocionais de uma sociedade polarizada
Um estado de hipervigilância provocado pelo medo de perder sua identidade e a aprovação do seu círculo de validação foi apontado pelo psicoterapeuta Jordan Campos como efeito de uma sociedade polarizada, que traz consigo também uma série de outros danos emocionais à população de uma forma geral. A palestra, realizada na tarde de hoje, dia 15, durante a Semana do Ministério Público, no auditório da instituição, no Centro Administrativo da Bahia, refletiu ainda sobre o fenômeno da politização como uma das causas da atual polarização no Brasil e apontou a pandemia da Covid-19 como um dos fatores causadores do medo, “despertado pela percepção de impotência, decorrente do cenário pandêmico”.
O palestrante falou sobre a existência de bolhas, espaços onde determinadas opiniões são validadas em detrimento de outras, como algo que, nas sociedades polarizadas, impõe rótulos a seus integrantes e, sobretudo aos que a eles se contrapõem. “Há numa sensação, em quem está na bolha, de que não é possível mudar de opinião, sob pena de ser apartado dos seus pares”, afirmou ele, destacando que isso se dá em decorrência de uma ânsia de pertencimento e aceitação, associada ao medo do julgamento. A exaustão seria, conforme o terapeuta, outro dano decorrente desse estado de coisas. “Quando a energia do indivíduo se volta à manutenção de um papel, seu sistema imune se enfraquece, sua autoestima baixa e ele adoece. A polarização traz doenças físicas e emocionais”, afirmou Jordan.
O psicoterapeuta explicou que os danos emocionais surgem quando o processo racional necessário para resolver um conflito é suprimido por uma reação emocional condicionada que impede o indivíduo de agir. “A impotência de mudar a realidade gera diferenças comportamentais que se manifestam como um sofrimento, que é potencializado pela polarização”, afirmou, salientando o dano emocional causado pela intolerância com a alteridade. “Quem está fora da bolha, ou pior, dentro de outra bolha, é visto como alguém que vive em um mundo diferente, fora da realidade, alguém que não é compreensível nem aceitável”, frisou.
O psicoterapeuta destacou ainda o papel dos algoritmos, comandos de programação que gerenciam o funcionamento das redes sociais, como instrumentos que aumentam a polarização e a resistência ao diferente. “O algoritmo faz com que, para cada usuário sejam distribuídos os conteúdos mais frequentemente consumidos por ele, de forma a reter sua atenção por mais tempo. Isso faz com que se crie a ilusão de que o outro não existe, pois o usuário das redes acaba vendo apenas o que pensam os integrantes da sua bolha e supondo ser essa a única realidade”, afirmou. Jordan concluiu a sua apresentação sugerindo que as pessoas buscassem individualmente se desprender de crenças limitantes. “Não se apegar a rótulos e aprender a abrir mão do que se apresenta como obstáculo a nossas mudanças é uma alternativa à polarização e um remédio para os danos emocionais que ela causa”, concluiu.
Fotos: Sérgio Figueiredo
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