Você está aqui
O mundo globalizado não tem espaço para a intolerância religiosa
O mundo globalizado não tem
espaço para a intolerância religiosa
“A intolerância religiosa tem ensanguentado a humanidade e evoluído para a intolerância política, racial e sexista. Cada um tem suas convicções religiosas, mas tem que respeitar as dos outros. Nesse sentido, os agentes do Direito e os policiais civis e militares, que são educadores, devem ser permanentes fontes de exemplo de respeito às leis e às diferenças”. Esta foi uma das ressalvas feitas hoje, dia 03, pelo mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UNB) e doutor em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP), Ordep Serra, ao ministrar a disciplina 'Religiões, Tolerância e Direitos Humanos' para os procuradores e promotores de Justiça, delegados e policiais militares que estão participando o Curso de Especialização em Direitos Humanos e Cidadania do Programa de Capacitação e Educação em Direitos Humanos (Procedh).
Durante a aula proferida no Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do Ministério Público estadual, Ordep Serra – que é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – destacou que os direitos humanos são enormemente lesados quando há intolerância religiosa. Ele chamou atenção para o fato de que “por trás de máscaras, linguagens ou motivações religiosas”, foram e ainda são gerados grandes conflitos, a exemplo das guerras entre católicos e protestantes no passado, do nazismo que massacrou milhões de judeus, dos conflitos emtre hinduístas muçulmanos e ortodoxos na Índia. Referiu-se ainda ao Afeganistão, que, com rigor do talibã, limita os direitos femininos, e aos fundamentalistas cristãos dos Estados Unidos que, em nome da pureza religiosa e racista, incitam a violência contra os negros através da Ku Klux Klan (KKK).
Ordep Serra lamentou o que está acontecendo na Bahia, onde os terreiros de candomblé e umbanda estão sendo invadidos, e as pessoas de santo sendo agredidas nas ruas “recebendo tapas com bíblias e sendo consideradas seres malignos” por integrantes de igrejas neopentecostais de missão, que, “em verdade, são empresas eclesiais que têm isenção de impostos e dão enormes lucros com a drenagem de recursos de pessoas pobres”. O antropólogo frisou que esta situação não pode continuar, porque a “Bahia é uma terra de grande riqueza cultural, pois foi aqui que as religiões de matriz africana começaram o ecumenismo religioso”, acrescentando que “no mundo globalizado não há espaço para a intolerância religiosa, e sim para o respeito às diferenças”. A disciplina prosseguirá durante todo o dia de amanhã.
O Procedh é um programa-piloto que tem como estratégia principal a capacitação em Direitos Humanos para agentes do setor público responsáveis pelo controle da ordem e manejo da força pública, distribuição e administração da Justiça, como forma de contribuir para a melhoria da eficiência das instituições estaduais, a redução da violência institucional, o fortalecimento da legitimidade das polícias, do MP e das instâncias de Justiça estaduais vinculadas à manutenção da ordem pública. Num horizonte mais amplo, o programa aponta para a geração de políticas públicas e de uma 'cultura social' baseada na observância dos direitos humanos. As aulas da primeira turma do curso de especialização serão concluídas neste primeiro semestre, e, de acordo com a coordenadora do Núcleo de Defesa e Proteção de Direitos Humanos e Articulação com os Movimentos Sociais (Nudh), promotora de Justiça Márcia Virgens, uma segunda turma do curso será formada até o final do ano.
Atenção, jornalista! Cadastre-se nas nossas listas de transmissão por meio da nossa Sala de Imprensa e receba nossos releases.